segunda-feira, 17 de outubro de 2016

BREVE ANÁLISE SOBRE O BATISMO POR ASPERSÃO


O objetivo dessa análise não é argumentar contra o imersionismo, muito menos ensinar que a prática no meio cristão é errada. O que pretendo é apenas mostrar que o batismo por aspersão não é contrário a Bíblia nem mesmo à história do cristianismo, como muitos imersionista defendem. Por isso terei que refutar alguns argumentos que afirmam ser equivocado o batismo por aspersão.

É de se admirar que em meio a muitos cristãos protestantes reformados, surgem alguns com o questionamento sobre o assunto. Por isso preparei essa breve análise para que os queridos irmãos tenham algumas de suas dúvidas esclarecidas. Lembrando que esse não é um estudo muito aprofundado, infelizmente não tenho tanto material disponível em minha biblioteca nem mesmo patente superior no assunto para preparar algo com mais exatidão, mas o básico do assunto será exposto aqui. Boa leitura!

1. Argumentos teológicos

Há um argumento imersionista que diz: "o batismo precisa ser por imersão porque o indivíduo é lavado dos seus pecados naquele exato momento". Há um problema nesse argumento, pois a Palavra de Deus na carta aos Hebreus é muito clara no que diz: "quase tudo se purifica com sangue. E, sem derramamento de sangue não há remissão de pecados" (Hb 9.20-22). Portanto não é a água, muito menos a sua quantidade que nos proporciona o purificar do pecado, mas sim o sangue do Cordeiro que foi derramado no madeiro, a saber o sangue de Jesus. 

Depois, podemos encontrar alguns textos no Antigo e Novo Testamento onde a palavra "aspersão" ou "aspergir" aparecem num sentido de rito de purificação. Analisemos: Ex 24.8; Lv 14.16; Ez 36.25; 43.18; Mc 7.4; Hb 9.13, 21; 12.24 e 1 Pe 1 e 2. Podemos ver então que em tais ritos de purificação é usado a palavra "aspergir" e não "imergir". Isso nos leva a entender que não é a ação de imergir que irá nos purificar do pecado, pois não há a palavra "imersão" em tais textos citados que estão num sentido de purificação.

Quando Cristo nos dá a ordem de fazermos discípulos e batizá-los, Ele ordena a cumprir o rito do batismo, mas não há nenhuma orientação na forma em que devemos realizá-lo. Por isso é incoerente da parte de alguém impor uma forma de batismo e definí-la como uma verdade bíblica incontestável, sendo que não existe uma afirmação de como deve ser feita. É muito triste a intolerância de algumas instituições eclesiásticas a respeito desse assunto, pois não respeitam a forma de batismo por aspersão impondo um novo batismo sobre os novos comungantes.

Enfim, a Bíblia é clara nesse assunto: Não é a água quem purifica, mas sim o sangue de Cristo. A forma de imersão não é a verdade bíblica para o batismo e nem purificação, pois vemos que a Bíblia está repleta de textos que trazem a palavra "aspergir" como sinal de purificação. Por esse motivo e também por Cristo não definir uma forma única de batismo não podemos desprezar o batismo por aspersão, imersão e nem mesmo o de efusão. Ambos têm o mesmo significado, e isso é o que importa. Sejamos mais tolerantes!

Referências bíblicas para a defesa do batismo por aspersão

Em um artigo teológico o Rev. Guilhermino Cunha diz algo interessante que devemos acrescentar em nosso pensamento sobre o assunto: "Sob a aspecto linguístico Baptus e Baptizw significam também imergir, mas não somente. Na Bíblia, os termos Baptw e Baptizw (Batizar e Batismo) são mais usados como aspergir, do que como imergir". Citarei alguns textos em meio a muitos que comprovam isso:

Mateus 3.11 - "Ele vos batizará com Espírito Santo e fogo". Vejamos que a todo momento, quando o Espírito Santo se manifesta para o cumprimento dessa promessa Ele vem "sobre" o indivíduo, como por exemplo o batismo de Jesus, onde o Espírito Santo veio "sobre" ele em forma de pomba (Mt 3.16). Ou então as línguas de fogo que vieram "sobre" os crentes que comemoravam o pentecoste (Atos 2.3-4). Enfim, "batizar" aqui está no sentido de "aspergir".

Em 1 Coríntios 10.2, Paulo diz: "Tendo sido batizados  na nuvem como no mar". Aqui o termo grego é "Ebaptizantw", que só pode significar que foram aspergidos pela nuvem (pois todos sabem que ali ninguém mergulhou na nuvem) e foram borrifados pela água do Mar Vermelho (uma vez que o povo passou a pé enxutos pelo meio do mar).

Um outro texto polêmico é o de Atos 9.18, que diz: "A seguir, levantou-se e foi batizado". Primeiramente observe que ele se "levantou" para ser "batizado". Sem dizer também que ele foi batizado "dentro" da "casa de Judas". Acho um pouco difícil haver um rio, mar ou até mesmo uma banheira de luxo que caberia Paulo e Ananias (quem o batizou) juntos para o evento.

Assim como Paulo, o carcereiro de Felipo, juntamente com sua família foram batizados dentro de sua própria casa (At 16.33), isso nos leva a entender que tais batismo foram por aspersão, a inferência é clara.

Enfim, existem outros vários textos que nos revelam o sentido de aspersão no batismo, mas acredito ser o suficiente para entendermos que existe sim o batismo por aspersão na Bíblia, e que tal modo de batismo não é apenas um evento raro, mas sim comum.

Argumento histórico

O Didaquê, um documento muito antigo, que foi escrito por volta do fim do primeiro século e início do segundo, no seu cap. VII diz que "o batismo deve ser feito com água pura, podendo ser aspergida sobre o batizando três vezes, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". 

Mais uma evidencia histórica de que o batismo por aspersão era uma prática comum no cristianismo primitivo é que nas catacumbas de Roma, e nos afrescos e entalhes de Nazaré revelam Cristo sendo batizado por João Batista, onde João derrama água "sobre" a cabeça dele. Ou seja, os cristãos primitivos deixam rastros históricos, aos quais nos revelam que o aspersionismo não era algo fora de cogitação, pelo contrário era visto como algo comum. 

Podemos conhecer outros vários argumentos históricos que comprovam que os cristãos primitivos batizavam por aspersão e não por imersão. Tenho certeza que se vasculharmos os pais da igreja iremos encontrar algo sobre o assunto. Mas enfim, ficarei apenas com esses dois que ao meu ponto de vista já são convincentes, para não estendermos mais esse pequeno estudo. Se alguém quiser se aprofundar mais no sentido histórico do batismo, aconselho ler sobre os Anabatistas e a sua confissão de fé conhecida como "Confissão de Fé de Schleitheim", que surgiu no ano de 1527, tal documento poderá levá-los a entender melhor o surgimento do imersionismo.

Nesse ponto podemos concluir que na história do cristianismo não há nada que condene o batismo por aspersão, pelo contrário, há provas concretas de que essa era uma prática comum no meio dos cristãos primitivos.

Razões práticas para batizar por aspersão

Acredito que o imersionismo se tornaria até mesmo complexo quando os imersionistas se deparam com algumas situações complicadas, como por exemplo, quando alguém que está em fase terminal num hospital decide ser batizado, e o indivíduo está impossibilitado de se levantar da cama. Seria muito difícil o enfermo ser batizado por imersão. Por outro lado sei que o batismo por aspersão não encontrará problemas com isso, por isso tal batismo é mais prático.

Outra observação que tenho a fazer é que seria até mesmo anti-higiênico tal batismo, pelo motivo que todo ser humano tem corrimentos e secreções por todo seu corpo, sem falar em doenças e problemas de pele. Enfim, mergulhar várias pessoas num único lugar se tornaria, além de nojento, problemático para a saúde de alguns. A não ser que o batismo ocorra em água corrente, onde possivelmente tais problemas possam ser evitados.

Nesse sentido vemos também que o batismo por aspersão tem suas vantagens e não são poucas. Ele é mais prático, pode ocorrer em qualquer lugar, com qualquer pessoa independentemente de seu estado de saúde e também é mais higiênico.

Conclusão

Podemos concluir essa breve análise dizendo que o batismo é uma ordem de Deus, onde a forma não é o que conta e sim o significado, pois a forma é apenas um sinal externo. O importante é a graça de Deus que é aplicada pelo Espírito Santo no coração do pecador que se arrepende. É o sangue do cordeiro que foi derramado em nosso favor (1 Jo.7-9). Portanto o que é necessário é a água, e não a quantidade de tal, pois se fosse o contrário seria mais justo batizar os indivíduos no oceano Atlântico. Espero ter sido claro que ambas formas de batizar são válidas, e o que espero de todos os cristãos que lerem esse texto é que sejam tolerantes uns com os outros, respeitando a forma em que ambos foram batizados, lembrando que o importante é o significado do batismo e o sangue de Cristo que nos purifica do pecado. Que Deus abençoe a cada leitor! 


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FÉRES, Leonan. Texto atualizado em 17/10/2016.



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