O primeiro texto que escrevi sobre hermenêutica bíblica foi específico para a leitura de textos poéticos nas Escrituras Sagradas. Agora nesse texto, com base em outro excelente livro sobre hermenêutica, a saber "O conhecimento das Escrituras" do Sproul, gostaria de abordar algumas regras básicas para a interpretação geral das Escrituras.
A primeira regra é a que a Bíblia deve ser lida como se lê qualquer outro livro. Isso não significa que é Bíblia é como qualquer outro livro, mas que ela deve ser lida como se lê qualquer outro livro. A Bíblia não é um livro alienado, e nem irracional, Ela é racional e contem um conteúdo a passar. Há um problema, muitos cristãos leem o jornal, revista e outros livros de forma racional, e quando vão ler a Bíblia parece que as coisas mudam, e a irracionalidade toma conta de sua mente, e o resultado disso é uma péssima interpretação do texto, sem levar em conta o contexto e a intensão do autor.
A segunda regra é ler a Bíblia de forma existencial. Quero dizer com isso, que devemos ler a Bíblia como se fôssemos um personagem que está assistindo ao vivo os fatos relatados no texto. Devemos sentir o texto, entrar na história.
A terceira regra é que as narrativas históricas devem ser interpretadas pelas passagens didáticas. Isso significa que devemos ficar atentos com um erro muito comum nos púlpitos, de criarem doutrinas ou princípios teológicos em cima de passagens históricas. Os textos didático sim têm autoridade para formular uma doutrina. Por isso é necessário um texto didático para interpretar o histórico.
A quarta regra é a de interpretar o implícito pelo explícito. Isso significa que há assuntos que são implícito, que não há uma afirmação explicita, e quando isso acontece devemos usar as passagens que são explícitas para sua melhor compreensão. Esse é um erro muito comum nas comunidades evangélicas. Há muitas doutrinas firmadas em deduções, e quando questionadas usam bases implícitas, sem nenhuma clareza.
A quinta regra é determinar cuidadosamente o significado das palavras. Os autores bíblicos escreveram a bíblia através de palavras, e essas palavras têm significados, têm sentidos. Não podemos ignorar esses sentidos no contexto em que foram escritos. Quando conhecemos esses significados podemos compreender melhor o todo do textos escritos na Bíblia.
A sexta regra é a observação dos paralelismos na Bíblia, pois o paralelismo nos apresenta ideias completas, e se negligenciarmos isso estaremos acrescentando ou ocultando algo do sentido do texto, e isso é desonesto à hermenêutica bíblica. Pra isso é preciso um bom material, no caso dos leigos algumas versões bíblicas que nos proporcionam uma separação dos paralelismo seria ideal para melhor interpretação do texto.
A sétima regra é saber diferenciar provérbios de leis. Sproul disse que um erro comum em interpretação e aplicação bíblica é dar ao provérbio a mesma força ou peso de um absoluto moral. Provérbios são dísticos pequenos e atraentes desenhados para expressar truísmos práticos. Refletem princípios de sabedoria para uma vida piedosa. Não refletem leis morais que devem ser aplicadas de forma absoluta a todas as possíveis situações da vida.[1]
A oitava regra é observar a diferença entre o espírito e a letra da lei. Isso significa que devemos tomar muito cuidado com o legalismo que muitas vezes criamos em nosso coração ao ler as Escrituras, e isso pelo fato de não compreender a essência do texto, o lado espiritual da lei.
A nona regra é tomar muito cuidado com as parábolas. Devemos observar qual o propósito original da parábola. Entender o contexto e a intensão do contador. Elas não são tão simples, como muitos imaginam, elas são complexas se não compreendermos a história ou contexto em que o autor vivia no momento e o seu publico alvo.
A décima regra é o cuidado com as profecias de predições. Existem dois extremos que tomam conta da mentalidade de muitos cristão nos dias atuais; a primeira é o ceticismo a respeito das profecias de predições, não acreditando e dando uma enfase naturalista nas profecias tanto do Antigo, quanto do Novo Testamento; e a segunda é a desacerbada visão contemporâneo dessas profecias, que as enxergam em tudo o que acontecem hoje. Ambos são frutos de uma equivocada hermenêutica, pois precisamos ter em mente que tais profecias realmente aconteceram como ação de Deus na vida do seu povo, e algumas aconteceram ao pé da letra, como havia sido revelada, já outras têm um fim escatológico, e não necessariamente irá acontecer ao pé da letra. As profecias apocalípticas são repletas de figuras de linguagens, e por isso são mais complexas, pois é preciso um alto conhecimento da cultura dos receptores bíblicos (judeus) para entender o sentido e significado de tais profecias.
Essas são as regras básicas para uma boa interpretação bíblica segundo Sproul. Se atentarmos para cada regra com zelo, teremos que tirar um melhor tempo para a leitura das Escrituras, mas valerá a pena, pois assim, evitaremos um maior risco de impor sobre um texto algo que ele não está querendo dizer, muito menos ocultar sua verdade.
Nota bibliográfica
SPROUL, R.C. O conhecimento das Escrituras. Tradução de Heloísa Cavallari Ribeiro Martins. Cultura Cristã: São Paulo, 2003.
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FÉRES, Leonan. Texto escrito no dia 20/10/2016.
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