segunda-feira, 10 de julho de 2017

JOÃO CALVINO – SÍNTESE BIOGRÁFICA


1509: João Calvino nasceu em Noyon, nordeste da França, no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era advogado dos religiosos e secretário do bispo local. Sua mãe, Jeanne Lefranc, faleceu quando ele tinha cinco ou seis anos de idade. Por alguns anos, o menino conviveu e estudou com os filhos das famílias aristocráticas locais. Aos 12 anos, recebeu um benefício eclesiástico, cuja renda serviu-lhe como bolsa de estudos.

1523: Calvino foi residir em Paris, onde estudou latim e humanidades no Collège de la Marche e teologia no Collège de Montaigu. Em 1528, iniciou seus estudos jurídicos, primeiro em Orléans e depois em Bourges, onde também estudou grego com o erudito luterano Melchior Wolmar. Com a morte do pai em 1531, retornou a Paris e dedicou-se ao seu interesse predileto – a literatura clássica. No ano seguinte, publicou um comentário sobre o tratado de Lúcio Enéias Sêneca De Clementia.

1533: converteu-se à fé evangélica, provavelmente sob a influência do seu primo Robert Olivétan. No final desse ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser o co-autor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o novo reitor da universidade. Refugiou-se na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a sua principal obra teológica. Em 1534, voltou a Noyon e renunciou ao benefício eclesiástico. Escreveu o prefácio do Novo Testamento traduzido para o francês por Olivétan (1535).

1536: no mês de março foi publicada em Basiléia a primeira edição da Instituição da Religião Cristã (ou Institutas), introduzida por uma carta ao rei Francisco I da França contendo um apelo em favor dos evangélicos perseguidos. Alguns meses mais tarde, Calvino dirigia-se para Estrasburgo quando teve de fazer um desvio em virtude de manobras militares. Ao pernoitar em Genebra, o reformador suíço Guilherme Farel o convenceu a ajudá-lo naquela cidade, que apenas dois meses antes abraçara a Reforma Protestante (21-05). Logo, os dois líderes entraram em conflito com as autoridades civis de Genebra acerca de questões eclesiásticas (disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas), sendo expulsos da cidade.

1538: Calvino foi para Estrasburgo, onde residia o reformador Martin Bucer, e ali passou os três aos mais felizes da sua vida (1538-41). Pastoreou uma pequena igreja de refugiados franceses; lecionou em uma escola que serviria de modelo para a futura Academia de Genebra; participou de conferências que visavam aproximar protestantes e católicos. Escreveu amplamente: uma edição inteiramente revista das Institutas (1539), sua primeira tradução francesa (1541), um comentário da Epístola aos Romanos, a Resposta a Sadoleto (uma apologia da fé reformada) e outras obras. Em 1540, Calvino casou-se com uma de sua paroquianas, a viúva Idelette de Bure. Seu colega Farel oficiou a cerimônia.

1541: por volta da ocasião em que Calvino escreveu a sua Resposta a Sadoleto, o governo municipal de Genebra passou a ser controlado por amigos seus, que o convidaram a voltar. Após alguns meses de relutância, Calvino retornou à cidade no dia 13 de setembro de 1541 e foi nomeado pastor da antiga catedral de Saint Pierre. Logo em seguida, escreveu uma constituição para a igreja reformada de Genebra (as célebres Ordenanças Eclesiásticas), uma nova liturgia e um novo catecismo, que foram logo aprovados pelas autoridades civis. Nas Ordenanças, Calvino prescreveu quatro ofícios para a igreja: pastores, mestres, presbíteros e diáconos. Os dois primeiros constituíam a Venerável Companhia e os pastores e presbíteros formavam o controvertido Consistório.

Por causa de seu esforço em fazer da dissoluta Genebra uma cidade cristã, durante catorze anos (1541-55) Calvino travou grandes lutas com as autoridades e algumas famílias influentes (os “libertinos”). Nesse período, ele também enfrentou alguns adversários teológicos, o mais famoso de todos sendo o médico espanhol Miguel Serveto, que negava a doutrina da Trindade. Depois da fugir da Inquisição, Serveto foi parar em Genebra, onde acabou julgado e executado na fogueira em 1553. A participação de Calvino nesse episódio, ainda que compreensível à luz das circunstâncias da época, é triste mancha na biografia do grande reformador, mais tarde lamentada por seus seguidores.

1548: nesse ano ocorreu o falecimento de Idelette e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que tiveram morreu ainda na infância. Não obstante, Calvino não ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões de Europa, com os quais trocava volumosa correspondência. Graças à sua liderança, Genebra tornou-se famosa e atraiu refugiados religiosos de todo o continente. Ao regressarem a seus países de origem, essas pessoas ampliaram ainda mais a influência de Calvino.

1555: os partidários de Calvino finalmente derrotaram os “libertinos.” Os conselhos municipais passaram a ser constituídos de homens que o apoiavam. Embora não tenha ocupado nenhum cargo governamental, Calvino exerceu enorme influência sobre a comunidade, não somente no aspecto moral e eclesiástico, mas em outras áreas. Ele ajudou a tornar mais humanas as leis da cidade, contribuiu para a criação de um sistema educacional acessível a todos e incentivou a formação de importantes entidades assistenciais como um hospital para carentes e um fundo de assistência aos estrangeiros pobres.

1559: nesse ano marcante, ocorreram vários eventos significativos. Calvino finalmente tornou-se um cidadão da sua cidade adotiva. Foi inaugurada a Academia de Genebra, embrião da futura universidade, destinada primordialmente à preparação de pastores reformados. No mesmo ano, Calvino publicou a última edição das Institutas. Ao longo desses anos, embora estivesse constantemente enfermo, desenvolveu intensa atividade como pastor, pregador, administrador, professor e escritor.

1564: João Calvino faleceu com quase 55 anos em 27 de maio de 1564. A seu pedido, foi sepultado discretamente em um local desconhecido, pois não queria que nada, inclusive possíveis homenagens póstumas à sua pessoa, obscurecesse a glória de Deus. Um dos emblemas que aparecem nas obras do reformador mostra uma mão segurando um coração e as palavras latinas “Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere” (O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero).


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MATOS, Alderi Souza. Texto extraído do Portal Mackenzie.



sexta-feira, 7 de julho de 2017

JÚLIO, UM “PEQUENINO” DE CRISTO



Júlio é um homem matuto, cabra macho e pernambucano, e que atualmente reside em Goiânia, GO. Homem sem estudos, com semblante sofrido, com marcas do sol em sua pele. O encontrei subindo com seu carrinho de coletar reciclagens com um fogão velho de quatro bocas, um colchão de casal e mais algumas coisinhas fundamentais para sobreviver bem em uma casa de dois ou três cômodos. A subida era tão íngreme que ele dava passos curtos, afadigado e extremamente molhado de suor. Me comovi com aquela cena e tive que parar. Desci de minha bicicleta, a segurei com a mão esquerda, e sem pedir peguei com a mão direita no puxador do carrinho de Júlio, onde ele segurava forte, e empurrei com toda a minha força. Já estava cansado do meu passei ciclístico, mas naquele momento ao ver a força de Júlio, e a dedicação em subir carregando aquele imenso carrinho, tirei forças de onde nem imaginava existir, e empurrei. De ali em diante eu tive uma longa conversa com aquele “cabra”, onde ele contou toda a sua história. Foi um passeio tão bom — apesar da imensa força que estávamos fazendo — que nem vi a hora passar, e caminhamos por um considerável trajeto até chegar na sua casa.

Resumindo nossa conversa, Júlio é um homem que não teve oportunidade de ter um bom estudo, pois teve que trabalhar na roça desde pequeno. Sua vida sempre foi de um empregado, e que precisava acordar cedo e dormir tarde para ter o seu pão. Pela falta de estudo nunca teve oportunidade de crescer na vida — digo no sentido de conseguir um emprego melhor, com boa remuneração. Ele tem esposa, filhos e netos. Todos trabalhadores, com carteira assinada e homens honestos e justos. Júlio veio para Goiânia atrás de emprego, mas enquanto não consegue, trabalha como coletor de reciclagens. Não é usuário de drogas, e nunca precisou usar de meios ilícitos para sobreviver e ter o pão na sua mesa. Disse preferir “ver a família chorar do fome diante da mesa sem nada para comer, do que ver a família sorrindo com a mesa farta, mas saber que aquele alimento é fruto de desonestidade”. Logo, em meu coração, senti o desejo de pegar o dinheiro que estava no meu bolso — o dinheiro de pagar as minhas contas — e entregar a ele, mas desisti quando ele disse que algo em que se orgulha é de nunca ter de pedir nada a ninguém, pois Deus sempre lhe deu saúde, força e oportunidade para trabalhar. Ele sorria quando me via afadigado de tanto fazer força puxando aquele carrinho com ele; dizia que era para mim pensar para o lado bom: eu estava me exercitando e adquirindo saúde.

Em toda a caminhada ele só reclamou de uma única coisa: da sua dor nos dentes. Quando olhei para o seu sorriso, haviam poucos dentes, todos apodrecidos e pelas metades. Meu coração partiu! Pois eu tinha um plano odontológico, e o usei poucas vezes, enquanto ele, um homem cheio de problemas dentários não tinha condições de pagar por um. Eu perguntei o que ele fazia quando as dores chegavam, e ele me respondeu: Tomo água e choro de dor! E sorriu sem graça. Mas imediatamente mudou de assunto, temendo que eu imaginasse que ele estava pedindo algo. Então no fim do percurso ele me disse que fica muito feliz de ver pessoas boas no mundo, que se importa com os menos favorecidos, e eu respondi que eu sigo a Cristo, e Ele ensina que devemos amar as pessoas como Ele as amou; imediatamente Júlio tirou o boné, colocou a mão no peito e disse: Deus é maravilhoso! O nosso Pai, que nos ama!

Ao despedir, fixei e decorei seu endereço em minha mente, para que eu pudesse voltar lá e construir uma amizade com um homem que valha a pena. Dei meu endereço e disse que ficaria feliz se ele fosse me visitar. Ele sorriu e disse o mesmo.

Diante dessa experiência que tive hoje, refleti, e três sentimentos me vieram no coração, ambos juntos, sem conseguir fazer distinção de quais eram mais fortes. O primeiro é a alegria de conhecer um homem de verdade, humano, honesto e que tinha muita sabedoria para me ensinar, muito mais sabedoria que muitos livros que leio. O segundo foi de tristeza, pelo fato de saber que pessoas tão boas sofriam muito mais do que eu (um homem tão egoísta, falho, pecador). Terceiro, foi de rancor, por saber que eu estava impossibilitado de livrá-lo de suas necessidades financeiras, e de sua dor de dente, e enquanto isso muitos políticos desfrutam de uma gigantesca fortuna que conquistaram com o seu “muito esforço” de corrupção, assassinato e roubos. Então me veio no coração: Deus! Onde estás? Que não socorre homens como Júlio? E logo Sua voz soprou em meu coração dizendo: “vós sois o sal da terra […], e a luz do mundo” (Mateus 5.13–16). E também: “ame uns aos outros como eu vos amei, assim saberão que são meus discípulos” (João 13.34–35). Eu sou um cristão, e como cristão, preciso levar o Evangelho a esse homem, mas esse evangelho não significa apenas uma salvação espiritual, e sim, também, um socorro para suas necessidades. Podem me chamar de sensacionista, marxista, adepto da teologia da libertação, missão integral ou qualquer outra coisa… Não ligo! Minha preocupação está em Júlio, com sua dor de dente, e suas necessidades básicas para sobrevivência humana. Minha teologia é cristã, meus sentimentos precisam ser cristãos, minha fé é cristã.

Júlio me fez um pedido… Júlio é um bom zelador de fazenda, ou sítio, é um “caseiro”. Trabalhou a vida toda sendo zelador de áreas rurais. Ele precisa de um bom emprego nessa área. Pela idade que ele tem (creio ter uns 60 anos), o trabalho na roça é menos pesado para ele, pois já tem muita experiência na área — isso foi o que ele me disse.
Mas Júlio também precisa de tratar seus dentes, e se livra de suas dores… Eu não sei como fazer… Pois não tenho condições financeiras para custeá-lo. Que o Senhor direcione pessoas para me ajudar socorrer um de seus “pequeninos”, um que se chama Júlio.

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Leonan Féres, Goiânia, 07 de julho de 2017.