1513-1515 (?) - A data e o local de nascimento de John Knox são incertos, sendo aceita a data de 1513 como a mais provável. É possível que Knox tenha nascido no povoado de Haddington, às margens do rio Tyne, distrito de Lothian Oriental, cerca de 30 Km a leste de Edinburgo [2]. Seu pai, William Knox era homem do campo e sua mãe era membro da família Sinclair. Sua mãe faleceu quando ainda era criança. Foi educado por sua madrasta, que era carinhosa e compreensiva.
Recebeu boa educação, aprendendo latim nos estudos regulares. A seguir matriculou-se na Universidade de Saint Andrews [3], para a formação acadêmica.
Waldyr Carvalho Luz descreve Knox como um homem comum e de aparência atarracada. Ombros largos, altura abaixo da média; possuindo um olhar brilhante e penetrante; saúde razoável; de temperamento impetuoso e disposição férrea [4]. Lloyd-Jones comenta que “havia algo que lhe vinha aos olhos uma vez ou outra, que, literalmente, punha o temor de Deus dentro das pessoas” [5]. Cairns nos diz que ele “era um homem corajoso, ríspido até, às vezes, que a ninguém temia, exceto a Deus” [6].
1528 - As idéias luteranas do jovem pastor Patrick Hamilton, que estudara em Marburg e Wittenberg, com Lutero, foram uma causa positiva do início da reforma na Escócia. Ele ensinava a justificação pela fé e chamou o Papa de anticristo. A morte prematura de Patrick Hamilton, queimado de forma desumana lentamente na fogueira como herege, marcou profundamente John Knox, que tinha por volta de 15 anos nessa época.
1530 - Ordenado sacerdote católico, tornou-se discípulo de George Wishart, que introduzira os ideais da reforma zuingliana na Escócia. Wishart traduziu para o inglês em 1536, a Confissão Suíça. O pensamento de Wishart influenciou fortemente a vida espiritual de Knox. Pouco depois se tornou tutor de filhos de nobres favoráveis à reforma.
1544-1546 - Knox serve a Wishart como seu guarda-costas entre 1544-46 [7]. Wishart foi queimado em uma estaca em Edimburgo, em 1546.
1546 - Pregou aos soldados protestantes no acampamento de Saint Andrews até ser capturado pelo exército francês, por ter participado de uma revolta em prol da reforma (31/07/1547). Trabalhou por 19 meses [8] como escravo nas galés de um navio militar francês até sua libertação na troca de prisioneiros. Nas galés sofreu, não só os rigores desse tipo de vida, como também muita crueldade, debilitando sua saúde [9].
1549-1551 - Retornando à Escócia, como a situação não era favorável, mudou-se para a Inglaterra, sendo designado ministro e pregador em Berwick, na fronteira com a Escócia, e posteriormente Newcastle. Nesse período firmou-se como grande pregador.
1552 - Transferindo-se para Londres, serviu como um dos capelães reais e um dos pregadores da corte, pregando várias vezes na presença do rei.
Em setembro, poucas semanas antes da publicação dos 45 Artigos, que dariam origem aos 39 Artigos, pregou perante o rei um sermão contra o artigo 38, que obrigava a recepção da ceia (hóstia) de joelhos. Knox afirmou que o ajoelhar-se era idolátrico e pecaminoso. Isso levou Cranmer a inserir, às pressas, uma observação ao artigo, publicado em uma folha em separado, que ficou conhecido como “o Artigo Negro” [10].
1553-1554 - Quando Eduardo VI ofereceu-lhe o bispado de Rochester, Knox o recusou desprendidamente, porque entendeu que esse oferecimento era uma tentativa do regente real Northumberland de silencia-lo e neutralizar sua influencia na corte real [11].
Com a ascensão de Maria Tudor ao poder na Inglaterra, teve de fugir para a Europa (03/1554). Indo para a Suíça, onde passou algum tempo com Calvino, em Genebra e Bullinger, em Zurique. Também fez visitas a Escócia, a fim de animar a fé dos que deixara no país [12].
1554-1559 - Nesse período esteve em Genebra e tornou-se aluno de Calvino, o qual considerava “o notável servo de Deus” [13]. Sob a persuasão de Calvino aceitou pastorear exilados religiosos ingleses em Frankfurt, na Alemanha. Após algum tempo ali, devido a vários problemas, especialmente devido a disputas com o anglicano Richard Cox, que queria que a igreja de refugiados em Frankfurt tivesse “um rosto inglês” [14]. A resposta de Knox refletiria o ponto central das controvérsias que se seguiriam na Inglaterra posterior entre os puritanos e a igreja Anglicana: “O Senhor permita que ela tenha a face da igreja de Cristo”. Por influência e incitação de Cox, Knox foi expulso de Frankfurt e teve de retornar a Genebra, sendo acompanhado por vários dos refugiados que pastoreava. Ali tornou-se novamente pastor da igreja inglesa (1555-59).
Casou-se com Marjorie Bowes em 1555, numa rápida visita à Escócia. Em 1556 escreveu A Forma de Orações, como diretório de culto.
1557 - Em dezembro de 1557, os nobres escoceses fizeram um pacto de usar suas vidas e bens para estabelecer “a Palavra de Deus” na Escócia. Nessa conjuntura, Knox iria voltar à Escócia para implantar o calvinismo e fundar a igreja presbiteriana escocesa.
1558 - Publica o Primeiro Clarim Contra o Monstruoso Governo de Mulheres, dirigido a Maria Tudor [16], em que ele dizia ser contra a natureza, Deus, e sua palavra, uma mulher governar, pois isso era “a subversão da boa ordem, de toda justiça e equidade”. Seu livro foi publicado em má hora, pois teve de se desculpar com a rainha da Inglaterra (Elizabeth I) por causa disso. A rainha Elizabeth nunca o perdoou por causa desse livro. Ainda nesse ano publicou Supplication (Rogativa), dirigida à regente escocesa; Appellation (Apelação), dirigida à nobreza da Escócia; e por último: Letter to The Commonality of Scotland (Carta ao Povo em Geral da Escócia) [17] .
1559 - A pedido de Calvino, escreveu seu único tratado teológico; Treatise on Predestination (Tratado Sobre a Predestinação). Vendo a atitude da rainha Elizabeth I para com a reforma inglesa, escreveu uma Breve Exortação à Inglaterra a Abraçar Rapidamente o Evangelho de Cristo Doravante, à Supressão e ao Banimento da Tirania de Maria [18]. A rainha da Inglaterra fez-lhe forte objeção, por considerá-lo uma intromissão de um escocês nos negócios da Inglaterra; também porque Knox usara de uma linguagem muito forte. Pregava contra os bispados ingleses e afirmava que o reinado de Maria Tudor fora um juízo de Deus sobre a Inglaterra por esta não levar adiante a reforma da igreja [19].
Knox retornou à Escócia, em abril desse ano, pregando na igreja de S. Giles, em Edimburgo.
1560 - Knox e os Lordes da Congregação iniciam a Reforma na Escócia. Participou da composição da Confissão Escocesa e ajudou a esboçar o Primeiro Livro de Disciplina.
Pôs-se fim do domínio papal na igreja escocesa.
A missa é declarada ilegal.
Revogação de todos os decretos contra os hereges (protestantes).
Aceitação da Confissão de Fé dos Seis Johns (Confissão Escocesa), escrita em quatro dias, a pedido do parlamento. Essa confissão, de inspiração notadamente calvinista foi a principal confissão de fé escocesa até a adoção da Confissão de Fé de Westminster em 1647.
Organização da igreja em presbitérios, sínodos e uma assembléia geral, semelhantes aos de Genebra. Nesse mesmo ano reuniu-se pela primeira vez a Assembléia Geral da Igreja da Escócia. Foram formalmente implantados em 1567.
Apesar disso, Knox teve muitos problemas com os lordes da congregação, que desejavam apossar-se das terras católicas. Knox insistia que deveriam ser utilizadas para o alívio da pobreza no país, estabelecer um sistema de educação universal e sustentar a igreja escocesa [20].
Em dezembro desse ano, faleceu sua esposa, deixando-lhe dois filhos pequenos: Nathanael (3 anos e meio) e Eleazer (dois anos). Calvino lhe escreveu uma carta demonstrando a sua solicitude e condolências.
1561 - Maria Stuart assume o trono escocês, segundo Gonzalez, a convite dos lordes da congregação [21]. Era uma mulher bela e inteligente. Ela teve vários encontros duros e francos com Knox, que não cedeu frente às suas lágrimas e lisonjas, tentando levar a igreja escocesa de volta ao catolicismo [22].
1564 - Publicação do Livro de Ordem Comum.
1567/68 - Maria Stuart, abdica ao trono escocês e refugia-se na Inglaterra, sob a tutela de Elizabeth I. Após a abdicação de Maria Stuart, Knox pregou na coroação do filho dela, James I, como rei da Escócia [23].
1572 - Próximo à data que marcou a noite de S. Bartolomeu, na França (24de agosto) Knox teve um ataque de paralisia e retirou-se da liderança da reforma. Mesmo assim, ao saber dos eventos dessa noite, fez um grande esforço para retornar ao púlpito, avisando a seus compatriotas que igual destino lhes cairia se fraquejassem na luta [24].
24/11/1572. Na manhã desse dia pediu à sua esposa que lesse dois textos bíblicos para ele; 1 Coríntios 15, que fala da ressurreição; e João 17, a oração sacerdotal de Cristo, sobre o qual comentou; “Aqui lancei a minha primeira âncora” [25]. Por volta das 22 horas, seu médico perguntou-lhe se ouvira as orações dos presentes a seu favor, ao que respondeu: “Quisera Deus que vocês e todos os homens as ouvissem como eu as ouvi; e a Deus louvo por este som celestial... Agora chegou”. Foram as suas últimas palavras, então faleceu.
Ainda neste ano, tentou-se restabelecer o sistema episcopal na igreja escocesa, contudo, Andrew Melville (1545-1622), reitor da Universidade de Glasgow, conduziu a luta pela restauração do sistema presbiteriano.
Em 1581, foram restabelecidos os presbitérios e em 1592, debaixo de forte oposição real (James VI) o presbiterianismo tornou-se a religião oficial dos escoceses. A vitória final, porém, só seria definitiva em 1690 [26].
Apanhado teológico
Não é correto afirmar que o pensamento de John Knox não tinha originalidade e que foi um mero repetidor das ideias de Calvino. Lloyd Jones [27] aponta dois pontos de seu pensamento em que isso fica claro. Primeiro na questão da relação entre Igreja e Estado; segundo na atitude para com diversas cerimônias religiosas da Igreja Anglicana, exemplificadas em seu livro “O Primeiro Toque da trombeta Contra o Governo Monstruoso das Mulheres” de 1558.
Knox via a si mesmo como um pregador e não como um teólogo acadêmico. Entendia que sua função era a de “tocar a trombeta do seu mestre” [28]. Seus sermões eram caracterizados pela exposição bíblica e pela preferência pelo Antigo Testamento [29], atacando a idolatria e a corrupção do culto cristão. Knox seguia à risca o princípio da sola Scriptura, tendo a Bíblia como a única base autorizada em que a doutrina pode ser fundamentada. Afirmou, seguindo Lutero e Wishart a justificação pela fé somente (sola fide).
Sua teologia era profundamente calvinista. Sua obra, Tratado Sobre a Predestinação (1559) segue de perto as formulações de Calvino e Beza, quando ensina que Deus escolheu soberanamente alguns para a salvação e outros para a condenação eterna, afirmando que a salvação do homem depende exclusivamente da graça divina.
Participou da confecção da Confissão Escocesa, caracterizada “pela centralidade de Cristo em cada um de seus vários tópicos, bem como pela riqueza da espiritualidade e o calor de expressão” [30].
Knox também percebeu que como a Igreja estava mudando de uma forma para outra completamente, seria necessário a composição de um Livro de Disciplina, onde fosse elaborado um plano para a vida eclesiástica e social da nação. É no Livro de Disciplina, seguindo a Confissão Escocesa, que ficam definidas como marcas da verdadeira igreja: a pregação correta da Palavra de Deus, a administração correta dos sacramentos (batismo e ceia) e o exercício correto da disciplina eclesiástica [31].
As marcas, sinais e símbolos seguros pelos quais a imaculada noiva de Cristo é distinguida da horrível meretriz, a falsa igreja, nós afirmamos, não são nem antigüidade, nem título usurpado, sucessão linear, lugar indicado, número de homens que provocam o erro... As marcas da verdadeira Igreja, portanto, nós cremos, confessamos e admitimos ser: primeiro, a pregação da verdadeira Palavra de Deus, na qual Deus tem nos revelado a si mesmo, como os escritos dos profetas e dos apóstolos declaram; segundo, a correta ministração dos sacramentos de Cristo Jesus, com os quais devem ser associados a palavra de Deus e a promessa de Deus para selá-las e confirmá-las em nossos corações; e por último, disciplina eclesiástica corretamente ministrada, como a Palavra de Deus prescreve, com a qual a imoralidade é reprimida e a virtude é alimentada. (Confissão Escocesa 18) [32].
A inclusão da disciplina como terceira marca da igreja o distingue de Calvino, que embora tivesse a disciplina em alta conta, nunca afirmou ser ela a terceira característica da igreja verdadeira. É exatamente nesse ponto que se percebe a influência de Bullinger em seu pensamento, pois é na Confissão Belga de 1536, que essa distinção aparece pela primeira vez. Também sua visão da disciplina, não pode ser entendida legalisticamente, mas deve ser vista à luz da participação do crente no sacramento da ceia, que não deveria “ser profanada com a permissão de que os negligentes e os deliberadamente iníquos se aproximassem da Santa Mesa no momento sagrado em que o Senhor e os participantes estivessem (como diz Knox) ‘unidos simultaneamente’” [33].
O Livro de Disciplina também orientava sobre o culto. Nele ficava claro que a exposição das Escrituras é a parte central do culto verdadeiro. Em Knox, mais do que em qualquer outro reformador fica clara a aplicação do princípio regulador do culto, pois ensinava, seguindo Zuínglio e John Hooper, que nenhuma prática era legítima no culto público, a não ser que especificamente ordenada nas Escrituras. Sua compreensão sobre a Ceia era semelhante a de Calvino e Bucer, ou seja, cria numa presença espiritual de Cristo na ceia, sendo recebida somente pela fé. H. Griffith [34], argumenta que o Primeiro Livro de Disciplina não era rigorosamente presbiteriano, mas já continha a sua semente.
A contribuição mais importante de Knox para a teologia protestante foi o seu conceito do relacionamento entre Igreja e Estado. Ele cria que Igreja e Estado perfaziam a mesma comunidade. A reforma religiosa não se imporia sem uma reforma política. A religião verdadeira deveria transformar tanto o indivíduo como a sociedade. Seu modelo para o governo civil foi retirado dos conceitos do Antigo Testamento. Na época da Reforma, a religião do príncipe era a religião do povo. Como Knox lutava contra o governo das rainhas católicas, achou um precedente no Antigo Testamento, para a desobediência civil quando as autoridades do povo contradiziam a Lei superior das Escrituras. Seu pensamento a respeito consta de sua obra: An Admonition or Warning (Uma Admoestação ou Advertência - 1554). Por fim, propôs que os cristãos são obrigados a derrubar um monarca idólatra (The First Blast of the Trumpet Against the monstrous Regiment of Women – O Primeiro Toque da trombeta Contra o Governo Monstruoso das Mulheres - 1558). Os ensinos de Knox contribuíram para o crescimento do conceito de liberdade religiosa.
Mesmo não sendo um revolucionário social, Knox também desenvolveu uma visão social bem clara para a Igreja. “Ele afirmou a obrigação de cada cristão cuidar dos pobres e elaborou um sistema mediante o qual cada igreja sustentaria seus próprios necessitados e administraria escolas de catequese para todas as crianças, ricas e pobres” [35].
Segundo Lloyd-Jones, Knox é o pai do puritanismo, apontando como razões a originalidade de seu pensamento e também porque apresentou com muita clareza os princípios normativos do puritanismo, quais sejam, a autoridade suprema das Escrituras; uma reforma que alcançasse mais do que a doutrina apenas, mas que também atingisse a vida prática de cada pessoa como cristão e como cidadão mais plenamente, uma reforma “de raiz e ramos” [36].
Lançou as bases mais concretas do princípio regulador do culto, contra o cerimonialismo anglicano, ao defender que a Igreja deveria reformar suas cerimônias, na forma de conduzir o culto e na administração das ordenanças. Para ele, nada podia ser acrescentado ou diminuído ao ensinado expressamente nas Escrituras. Segundo interpreta Lloyd-Jones: “Diziam que ele afirmava que o homem não pode formar nem inventar uma religião aceitável a Deus, mas está obrigado a observar e a manter a religião que de Deus é recebida, sem trocas nem mudanças” [37].
Knox também escreveu uma História da Reforma na Escócia [38], que foi publicada somente em 1587, na Inglaterra, após a sua morte. A publicação na íntegra apareceu somente em 1644.
O que podemos aprender com Knox?
1. Sua firmeza na defesa daquilo em que acreditava. Ele sobressai na sua conscienciosa aplicação daquilo que acreditava ser o modelo neotestamentário concernente à natureza da Igreja, às ordenanças e cerimônias, e ao exercício da disciplina [39]. Ele é o pai do puritanismo no seu conceito de culto e do princípio regulador. Seus ensinos sobre a desobediência civil ao Estado forneceram “as diretrizes para uma doutrina da Igreja e do Estado desenvolvida pelos presbiterianos e pelos huguenotes franceses em tempos posteriores” [40].
2. Sua paciência e perspicácia pastoral. É sabido que em seu tempo em Newcastle e Berwick, sob a jurisdição da Igreja da Inglaterra, ele simplesmente deixava de lado a aplicação em sua congregação dos Livros de Oração Comum de 1548 e 1549. Ele não pregava contra, mesmo discordando deles, simplesmente não os aplicava. Lloyd-Jones chama a atenção para o fato de que não precisamos ficar dizendo o que vamos fazer e assim chamando a atenção para a questão e causando polêmica, pois muitas vezes na vida pastoral, fazer em silêncio é mais importante do que falar [41].
Essa atitude sua milita contra as acusações freqüentes de que Knox era um fanático autoritário, movido por presunção e ambições. Mas a moderação, muitas vezes é encontrada na paciência de esperar a hora certa de agir. Para Knox essa hora veio quase vinte anos depois, Quando pastoreou refugiados ingleses em Genebra e quando implantou o presbiterianismo na Escócia, sem os ritos do Livro de Oração Comum, e na aprovação de seu Livro de Disciplina e na Ordem do Culto. Embora a Reforma escocesa acontecesse sem derramamento de sangue, Knox e seus amigos passaram por difíceis testes na sua fé antes que o ideal reformador se estabelecesse completamente. Em meio a todos eles perseveraram com paciência.
Esse ponto também fica claro em sua carta de 1567 aos pastores puritanos que estavam sendo perseguidos pelos bispos anglicanos. Knox argumentou com eles que não cortassem seus laços com a Igreja da Inglaterra, mas que “deveriam manter o acordo pela paz e pela unidade, por algum tempo” [42]. Na verdade, Knox os aconselhava a serem mais pacientes e aguardarem uma oportunidade mais favorável às reformas puritanas, pois tinha esperança de mudanças.
3. Sua pregação fiel e ao mesmo tempo contextual. Knox não hesitava em ir ao púlpito e pregar abertamente contra aquilo que não concordava com as Escrituras. Também várias vezes usou da pregação para refrear a cobiça dos lordes pelas terras da Igreja católica desapropriadas na Escócia. Knox nos ensina que a pregação da palavra tem de ser a exposição bíblica e que essa exposição não pode estar alienada do mundo ao seu redor, antes deve falar a ele partindo da Escritura como única regra de fé e conduta.
Knox nos dá um exemplo primoroso do que seja uma teologia engajada, que busca aplicar os preceitos bíblicos em todas as áreas da vida cristã privada e pública. A rainha da Escócia declarou que temia mais as orações e pregações de John Knox, do que dos soldados e dos canhões da Inglaterra. Seu sermão tinha a capacidade de colocar o temor de Deus nas pessoas.
Seu senso da total dependência humana da graça divina, que compunha o seu pensamento e sua vida tornou-se “o centro da vida das igrejas reformadas durante toda a sua história” [43].
4. Seu amor pela Igreja de seu país. Knox orava pela igreja escocesa; “Oh Deus! Dá-me a Escócia, senão eu morro”. Buscou de todas as formas que pode conceber, reformar a igreja de seu país, mesmo quando estava em Genebra, enviava-lhes seus livros, exortando-os à reforma. Por fim, no último dia de sua vida, pediu, segundo o relato de sua própria filha, que sua esposa lesse para ele João 17, dizendo: “Leia a parte onde eu lanço a minha primeira âncora” [44].
Notas:
[1] Apresentação do autor abaixo das notas de referência.
[2] Waldyr Carvalho Luz, John Knox, O Patriarca do Presbiterianismo, ECC, p.13.
[3] Cairns diz que foi em Glasgow (Earlie Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, Vida Nova, p. 260).
[4] Waldyr C. Luz, John Knox, O Patriarca do Presbiterianismo, p.14.15.
[5] D. Martin Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, PES, p.4,5.
[6] Earlie Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 260.
[7] Waldyr Carvalho Luz, John Knox, O Patriarca do Presbiterianismo, p.32.
[8] Agosto de 1547 a Fevereiro de 1549. Ibid., p.57..
[9] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.2.
[10] Ibid., p.20.
[11] Waldyr Carvalho Luz, John Knox, O Patriarca do Presbiterianismo, p.63.
[12] Justo Gonzalez, A Era dos Reformadores, Vida Nova, p.138.
[13] Earlie Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.260.
[14] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.9.
[15] Tony Lane, Pensamento Cristão, Vol. II, Abba Press, p.42.
[16] As outras mulheres governantes eram as católicas Maria de Lorena, na Escócia; e Catarina de Médicis, na França. Justo Gonzalez, A Era dos Reformadores, vol. VI, p.139.
[17] Waldyr Carvalho Luz, John Knox, O Patriarca do Presbiterianismo, ECC, p.93.
[18] A Brief Exhortation to England for the Speed Embracing Christ’s Gospel Heretofore by Tyranny of Mary Suppressed and Baniished.
[20] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.24,25.
[21] Justo Gonzalez, A Era dos Reformadores, vol. VI, p.141.
[22] Ibid.
[23] Earlie Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.261. Veja um extrato de uma dessas conversas em: John Leith, A Tradição Reformada, Pendão Real, p.342.
[24] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC (Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã) vol. II, Vida Nova, p.403.
[25] Justo Gonzalez, A Era dos Reformadores, p.143.
[26] F. F. Bruce, João, Introdução e Comentário, Vida Nova, p. 280. Lloyd Jones coloca de forma ligeiramente diferente: “Leia a parte onde eu lanço a minha primeira âncora” (Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.32).
[27] Earlie Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.262.
[28] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.9.
[29] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC vol. II, Vida Nova, p.403.
[30] John Leith, A Tradição Reformada, p.211. Embora John Leith classifique os sermões de Knox com a expressão “literalismo bíblico”, preferimos a terminologia “exposição bíblica”, pois reflete melhor o método de Knox.
[31] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC vol. II, Vida Nova, p.404.
[32] Ibid.
[33] Citada por Tony Lane, Pensamento Cristão, Vol. II, p.43.
[34] James S. Mcewen, citado por: John Leith, A Tradição Reformada, p.247.
[35] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC vol. II, p.404.
[36] Ibid., p.405.
[37] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.13.
[38] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.14.
[39] O título completo é: História da Reforma de Religião Dentro do Reino da Escócia. A versão integral dessa obra apareceu somente em 1644, segundo Tony Lane (Pensamento Cristão, Vol. II, p.42).
[40] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.15.
[41] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC vol. II, p.405.
[42] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.6,15.
[43] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.26. Itálicos meus.
[44] H. Griffith, “John Knox”, EHTIC vol. II, p.405.
[45] Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.32.
_________________________________________________________________________